sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

MENOPAUSA - FISIOPATOLOGIA E SINTOMAS

                Nesse segundo texto sobre Climatério e Menopausa, abordaremos a sua fisiopatologia, ou seja, quais as mudanças pelas quais passa o organismo feminino, o porque delas e quais problemas podem advir dessas mudanças. O grande responsável pelos sintomas que as mulheres apresentam no Climatério e após a Menopausa é a redução significativa e progressiva do hormônio Estradiol durante o processo de involução dos ovários. O Estradiol é um hormônio essencial ao corpo humano feminino, com mais de 400 funções anabólicas e de reparo. Com a redução, e posterior pausa da função ovariana de produzir Estradiol, as mulheres passam a apresentar diversas queixas, tanto físicas como psicológicas.
                O Estradiol tem ações importantes do aparelho circulatório feminino, na manutenção da saúde cardiovascular da mulher. Ele auxilia:
- na manutenção da elasticidade normal das artérias,
- na dilatação dos microcapilares e manutenção do fluxo sanguíneo,
- na inibição da agregação plaquetária,
- na redução da deposição das placas de ateroma, na redução do LDL-Colesterol e na inibição da sua oxidação,
- no aumento do HDL-Colesterol,
- na redução da Lipoproteína A, da Homocisteína e da Proteína C Reativa,
- no bloqueio dos canais de Cálcio, ajudando a manter a permeabilidade arterial.
                A redução, e posterior ausência, dessas ações do Estradiol durante o Climatério e após a Menopausa podem levar a:
- aumento do risco para doenças cardiovasculares como Hipertensão Arterial, Ateromatose e Acidentes Vasculares isquêmicos,
- palidez cutânea, mais facilmente observada na face.
                Com relação aos Sistemas Ósteoarticular, Muscular e Cutâneo, são as seguintes as ações do Estradiol:
- estimula a síntese de Miosina e previne o catabolismo muscular,
- mantém as concentrações fisiológicas de Colágeno na pele, contribuindo para a sua firmeza e elasticidade,
- mantém a hidratação natural da pele,
- mantém a densidade mineral óssea.

                Consequentemente, a falta de Estradiol durante Climatério e após a Menopausa pode levar a:
- perda de massa muscular, levando a flacidez muscular e à queda progressiva da Taxa Metabólica, o que também pode contribuir para o ganho de peso por acúmulo progressivo de gordura corporal,
- flacidez da musculatura abdominal e dores nas costas,
- flacidez da musculatura da bexiga com consequente urgência urinária,
- flacidez, atrofia, redução da hidratação e enrugamento da pele,
- redução da densidade mineral óssea, com perda de massa óssea (Osteopenia e Osteoporose) levando a aumento do risco de fraturas espontâneas e/ou provocadas por traumas, e reabsorção progressiva dos ossos Maxilar e Mandibular com consequente amolecimento e perda de dentes.
                O Estradiol ajuda a melhorar a Resistência Insulínica; sua queda, portanto, leva à Resistência Insulínica elevada, com estímulo para o aparecimento de Diabetes melito do tipo 2, Sobrepeso e Obesidade, acúmulo de gordura visceral e aumento do Risco cardiovascular.
                O Estradiol atua no Sistema Nervoso Central (SNC), ajudando a regular a temperatura corporal; sua deficiência leva ao aparecimento dos "fogachos" (ondas de calor súbitas e incontroláveis que ocorrem durante Climatério e até alguns anos após ocorrer a Menopausa).
                Em relação ao SNC, outras ações desse hormônio são:
- melhora o fluxo sanguíneo cerebral,
- estimula o sono REM 2,
- aumenta a produção dos NGF (Nerve Growth Factors),
- melhora o humor e eleva a capacidade de concentração,
- é um poderoso indutor da síntese de Serotonina, eliminando a irritabilidade e agindo como antidepressivo e ansiolítico,
- reduz a sensibilidade à dor.
                Sua falta, portanto, pode levar a:
- alterações do humor, com tendência a Depressão e/ou Irritabilidade,
- insônia ou sono leve, interrompido e não reparador,
- lapsos ou déficit importante de memória, redução das habilidades motoras finas e da criatividade.
                O Estradiol é responsável pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários da mulher e também auxilia na manutenção da libido e da sensualidade feminina. Sua queda leva a:
- flacidez (queda) e achatamento das mamas,
- diminuição e achatamento dos mamilos,
- pelos corporais e púbicos se tornam mais grossos e escuros,
- perda de volume e redução do brilho dos cabelos,
- ressecamento e atrofia da mucosa vaginal, que pode levar a Dispareunia (dor ou desconforto durante as relações sexuais) e prurido vaginal,
- alteração da silhueta corporal, com perda do padrão de deposição de gordura corporal feminino (ginecóide) e mudança para um padrão de distribuição de gordura mais masculino (andróide), com afinamento de coxas e quadris,   alargamento da cintura, e face menos arredondada e mais angulosa.
- alteração do timbre de voz mais suave e agudo, feminino, para outro mais grave, masculino.
                 Continuaremos a falar sobre a Menopausa no próximo texto, que abordará o seu tratamento.

                   Paz e Saúde para todos,
                                                    Paula Figueirêdo.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

EXISTE "VIDA" APÓS A MENOPAUSA?


            Embora esse texto esteja voltado basicamente ao público feminino, é importante que os homens o leiam, se tiverem interesse em obter maiores informações e uma melhor idéia do organismo e do Universo femininos e de como os hormônios interferem neles. Desejo a todos uma boa leitura.

                Na realidade, para fazer jus a esse texto e a nós, mulheres modernas e batalhadoras, seria melhor o título Existe "vida" antes de e após a Menopausa? A mulher de hoje tem uma vida realmente corrida, na falta de um termo que melhor descreva o nosso cotidiano. Nós, mulheres, somos treinadas, adestradas mesmo, desde a infância, a realizar atividades múltiplas durante várias horas do dia. Quando na adolescência, a essas horas diurnas somam-se mais algumas horas noturnas de atividades variadas. E assim, quase sem percebermos, os anos vão passando. As atividades mudam. A escola cede lugar à Universidade e, então, ao mercado de trabalho. Das aulas de educação física, esportes e dança na escola, passamos a frequentar academias de musculação, estúdios de Pilates e quadras de vôlei, tênis, ou vamos simplesmente caminhar ou correr alguns dias na semana. Ou, para as mais "zen", aulas de Yoga ou Tai Chi.

             Enfim, crescemos. E as atividades, também. Os compromissos só aumentam. Aí, conhecemos alguém interessante, nos apaixonamos e resolvemos casar. Então vêm os filhos, a responsabilidade de cuidar de uma casa e precisamos "dilatar" mais ainda o nosso dia para dar atenção ao marido e aos filhotes. Mas as mulheres são realmente fortes e "multifuncionais". E precisam ser, já que agora a rotina envolve o trabalho, os filhos, o marido, a casa, a academia, os pais, irmãos, sogros, cunhados, sobrinhos, netos, às vezes uma grande família, amigos, etc. E ainda precisamos achar tempo (não sei como) para acomodar os acontecimentos imprevistos e a vida social. Pasmem, ainda conseguimos ter vida social! 

                Nunca fui muito boa em Matemática, mas nem é preciso ser, para perceber que é necessário sacrificar alguma coisa na nossa vida, de modo a poder acomodar tudo o que é necessário, ou que consideramos importante, fazer no nosso dia-a-dia. O que nós costumamos sacrificar, e perder, é geralmente nessa ordem: as horas de lazer, os horários reservados para as refeições com a família e as horas noturnas necessárias para um sono reparador. Nos tornamos mulheres-robôs, mais ou menos eficientes; acordamos pela manhã, pulamos da cama (algumas literalmente se arrastam penosamente para acabar de acordar debaixo do chuveiro gelado), engolimos alguma coisa (ou não), engatamos o piloto automático e, lá vamos nós. Damos um beijinho no marido, levamos os filhos para a escola, mergulhamos no trabalho, pulamos o almoço (algumas de nós ainda conseguem almoçar, outras só lancham, e outras, nem isso), pegamos os filhotes na escola (ou pedimos a alguém para fazer isso por nós), voltamos a trabalhar e, quando encerramos o expediente... voilá! levamos mais trabalho para casa. E não podemos esquecer da academia,  senão "cai" tudo!
 
                 A noite realmente é um show à parte, o malabarismo da vida real, digno dos melhores artistas circenses, onde temos que equilibrar a atenção aos filhos, ao marido, à casa, à refeição (talvez), ao trabalho e, se sobrar um tempinho, dormimos um pouco para nos preparar para um novo dia (que de novo não tem nada) onde repetiremos tudo e ainda encaixaremos qualquer coisa que não conseguimos fazer no dia anterior. Fiquei cansada só de descrever a cena! Peço licença para divagar um pouquinho, contando uma história que ilustra bem o malabarismo da vida real. Eu tive uma paciente, há alguns anos atrás, de quem eu confesso que tinha uma grande inveja (branca, claro) do seu grau de doação (e também de energia). Ela chegava em casa no final de um dia corrido e de muito trabalho (era engenheira civil e acompanhava o andamento de diversas obras), dava o jantar para as duas filhas pequenas, tomava banho junto com elas, vestia o pijama e deitava com as filhotas, contava historinhas e rezava com as meninas, e as colocava para dormir, ficando deitada com elas até que as mesmas caíssem no sono, por volta das 20, 21 horas. Então, ela se levantava, trocava de roupa e ia malhar na academia. Dá para imaginar a cena? Eu lembro de ter perguntado o porque de tudo isso e de ela me responder, na maior simplicidade, que não queria que as filhas pensassem que ela estava longe delas enquanto elas dormiam. Não tenho palavras que façam justiça à capacidade de doação dessa mãe e mulher.

                É incrível, inverossímel até, mas nós vivemos assim. Temos energia para levar a vida dessa maneira acelerada sentindo, às vezes, não mais que um pouco de cansaço, algum desconforto, uma dorzinha aqui, outra acolá. E isso por vários e vários anos. É a nossa vida e achamos normal vivê-la assim. Os anos passam e nós continuamos firmes, fortes e prontas para "ir à luta", algumas com um pouco mais, ou menos, de vigor que outras. Mas uma das Leis da Natureza é a da Impermanência e, assim, as coisas mudam insidiosamente ao longo dos anos. 

                Outra coisa que nós perdemos, e que eu omiti propositadamente acima, é a noção do Tempo. Não do diuturno, de curto prazo, como dia e noite, dias e semanas. Mas o de longo prazo, a contagem dos anos. Enquanto nos envolvíamos (ou, para algumas de nós, nos revolvíamos) na nossa rotina "fórmula 1", o tempo passou. De repente, não nos sentimos mais tão fortes ou motivadas, ou tão firmes e equilibradas. Começamos a sentir cansaço fácil, a memória começa a falhar, passamos a dormir menos (não por falta de tempo, mas por falta de sono), a nossa paciência é drasticamente reduzida, o nosso corpo começa a mudar (parece que quanto menos comemos, mais engordamos), podemos nos sentir melancólicas e desanimadas. A maioria de nós pode associar esses acontecimentos ao Estresse Crônico (o que, de fato, pode ser verdade em muitos desses casos), mas muitas mulheres só se apercebem que o tempo realmente passou quando os ciclos menstruais começam a sofrer alterações. No início, podem ser alterações discretas e passar desapercebidas, mas elas evoluem até que os ciclos mensais começam a falhar. É o sinal característico da chegada do Climatério, arauto da Menopausa.

                Mas, o que é Climatério? E Menopausa? Porque ela, se ainda não chegou para várias de nós, vai inexoravelmente chegar? E, mais importante, como conviver, e viver bem, com as mudanças trazidas pelo Climatério, e após passar pela Menopausa? Sim, porque não é absolutamente necessário sofrer os mal-estares ligados a essas mudanças passivamente. Podemos, e devemos, tratar esses sintomas e manter nossa Saúde e Bem Estar, mesmo sendo senhoras "menopausadas".

                Dizer que o Climatério e a Menopausa acontecem porque envelhecemos é um modo simplista de colocar os fatos, já que começamos a envelhecer bem antes disso, mas é a verdade. Vamos tentar entender as mudanças que acontecem internamente em nossos organismos, que levam a esse "divisor de águas" em nossa qualidade de vida.

                Nós produzimos vários hormônios, substâncias que funcionam como sinalizadores químicos para que os nossos órgãos possam exercer suas funções fisiológicas, ou seja, de modo equilibrado. Alguns desses hormônios são o Hormônio Folículo Estimulante (FSH), o Hormônio Luteinizante (LH), os Estrogênios e Progestogênios que exercem, entre outras funções, as de manter e regular os ciclos menstruais. A Hipófise, uma pequena glândula neuroendócrina localizada no cérebro, produz o FSH e o LH, enquanto os ovários respondem a esses estímulos produzindo Estrogênios e Progestogênios. Vamos simplificar esse detalhe nos referindo, a partir de agora apenas ao Estrogênio e ao Progestogênio principais para a construção do nosso raciocínio: o Estradiol e a Progesterona.

                Não vamos entrar em detalhes sobre o ciclo menstrual, para não alongar desnecessariamente o texto. Podemos resumir dizendo que Estradiol e Progesterona têm a função de preparar o útero para receber um óvulo fecundado por um espermatozóide (chamado, a partir de então, de ovo) e desenvolver uma gestação. Para isso, o endométrio (camada interna do útero) se espessa e fica repleto de vasos sanguíneos (ação do Estradiol), para garantir que o óvulo fecundado possa aí se desenvolver e gerar um novo ser (ação da Progesterona). Quando a fecundação não ocorre e a mulher não engravida, sinais químicos ordenam a queda da Progesterona, o que causa o colapso e a ruptura dos vasos sanguíneos no endométrio, e o seu descolamento e posterior eliminação através do canal vaginal, processo conhecido como menstruação. Esse ciclo se repete mensalmente, em períodos mais ou menos regulares, durante a nossa chamada "vida fértil", iniciando com a Menarca (primeira menstruação, marca o início da puberdade) e finalizando com a Menopausa. 

                Bem, a partir dos 30 anos de idade, embora não nos apercebamos, começam a ocorrer discretas alterações na produção desses hormônios e, então, iniciamos o processo lento e inexorável de envelhecimento celular. Esse processo ocorre em todos os órgãos e glândulas do corpo gerando, com o tempo, sinais internos e externos da queda das suas funções. Falando em particular sobre os ovários, como temos uma reserva funcional geralmente boa, essas alterações podem se desenvolver por até duas décadas antes de percebermos os sinais físicos da sua senescência, ou seja, as alterações no ciclo menstrual. O Climatério é justamente esse período, onde aparecem as alterações nos ciclos mas nós permanecemos menstruando, pois os níveis dos hormônios Estradiol e Progesterona já estão alterados o suficiente para que os ciclos fiquem irregulares.

                As alterações laboratoriais que caracterizam essa fase da nossa vida são a elevação progressiva dos hormônios hipofisários FSH e LH, e a queda, também progressiva dos hormônios ovarianos Estradiol e Progesterona.

                O Climatério pode durar vários anos, dependendo da velocidade de envelhecimento dos ovários, podendo se extender dos 45 até os 55, 60 anos de idade. Durante essa fase, os ovários vão perdendo lentamente a capacidade de produzir seus hormônios até finalmente atrofiarem e pararem de funcionar. A mulher tem, então, a sua última menstruação fisiológica, que é a Menopausa.

                Embora a principal característica da Menopausa seja a ausência de ciclos menstruais, esse não é o problema mais importante (na realidade, para a maioria de nós, mulheres, a ausência das menstruações é até bem vinda). As mudanças fisiológicas que ocorrem durante o Climatério e após a Menopausa, e que podem predispor ao aparecimento e/ou agravamento de diversas patologias, é que são o verdadeiro problema.

           Segue aqui uma breve relação dos sinais físicos e psicológicos relacionados ao Climatério e à Menopausa, os quais serão explicados mais detalhadamente no próximo texto:

                - irregularidades menstruais

                - alterações da libido

                - alterações do humor

                - alterações do contorno corporal

                - alterações do padrão de sono

                - ondas de calor

                - atrofia dos órgãos genitais primários e secundários

                - sinais externos de envelhecimento acelerado

                No próximo texto veremos as principais ações fisiológicas dos hormônios Estradiol e Progesterona e o que ocorre conosco quando não os produzimos mais, assim como a importância da sua reposição e os métodos mais indicados atualmente.

               Até o nosso próximo encontro.

               Um grande abraço para todos(as) e votos de Saúde e Paz,

               Paula Figueirêdo.