segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

EXISTE "VIDA" APÓS A MENOPAUSA?


            Embora esse texto esteja voltado basicamente ao público feminino, é importante que os homens o leiam, se tiverem interesse em obter maiores informações e uma melhor idéia do organismo e do Universo femininos e de como os hormônios interferem neles. Desejo a todos uma boa leitura.

                Na realidade, para fazer jus a esse texto e a nós, mulheres modernas e batalhadoras, seria melhor o título Existe "vida" antes de e após a Menopausa? A mulher de hoje tem uma vida realmente corrida, na falta de um termo que melhor descreva o nosso cotidiano. Nós, mulheres, somos treinadas, adestradas mesmo, desde a infância, a realizar atividades múltiplas durante várias horas do dia. Quando na adolescência, a essas horas diurnas somam-se mais algumas horas noturnas de atividades variadas. E assim, quase sem percebermos, os anos vão passando. As atividades mudam. A escola cede lugar à Universidade e, então, ao mercado de trabalho. Das aulas de educação física, esportes e dança na escola, passamos a frequentar academias de musculação, estúdios de Pilates e quadras de vôlei, tênis, ou vamos simplesmente caminhar ou correr alguns dias na semana. Ou, para as mais "zen", aulas de Yoga ou Tai Chi.

             Enfim, crescemos. E as atividades, também. Os compromissos só aumentam. Aí, conhecemos alguém interessante, nos apaixonamos e resolvemos casar. Então vêm os filhos, a responsabilidade de cuidar de uma casa e precisamos "dilatar" mais ainda o nosso dia para dar atenção ao marido e aos filhotes. Mas as mulheres são realmente fortes e "multifuncionais". E precisam ser, já que agora a rotina envolve o trabalho, os filhos, o marido, a casa, a academia, os pais, irmãos, sogros, cunhados, sobrinhos, netos, às vezes uma grande família, amigos, etc. E ainda precisamos achar tempo (não sei como) para acomodar os acontecimentos imprevistos e a vida social. Pasmem, ainda conseguimos ter vida social! 

                Nunca fui muito boa em Matemática, mas nem é preciso ser, para perceber que é necessário sacrificar alguma coisa na nossa vida, de modo a poder acomodar tudo o que é necessário, ou que consideramos importante, fazer no nosso dia-a-dia. O que nós costumamos sacrificar, e perder, é geralmente nessa ordem: as horas de lazer, os horários reservados para as refeições com a família e as horas noturnas necessárias para um sono reparador. Nos tornamos mulheres-robôs, mais ou menos eficientes; acordamos pela manhã, pulamos da cama (algumas literalmente se arrastam penosamente para acabar de acordar debaixo do chuveiro gelado), engolimos alguma coisa (ou não), engatamos o piloto automático e, lá vamos nós. Damos um beijinho no marido, levamos os filhos para a escola, mergulhamos no trabalho, pulamos o almoço (algumas de nós ainda conseguem almoçar, outras só lancham, e outras, nem isso), pegamos os filhotes na escola (ou pedimos a alguém para fazer isso por nós), voltamos a trabalhar e, quando encerramos o expediente... voilá! levamos mais trabalho para casa. E não podemos esquecer da academia,  senão "cai" tudo!
 
                 A noite realmente é um show à parte, o malabarismo da vida real, digno dos melhores artistas circenses, onde temos que equilibrar a atenção aos filhos, ao marido, à casa, à refeição (talvez), ao trabalho e, se sobrar um tempinho, dormimos um pouco para nos preparar para um novo dia (que de novo não tem nada) onde repetiremos tudo e ainda encaixaremos qualquer coisa que não conseguimos fazer no dia anterior. Fiquei cansada só de descrever a cena! Peço licença para divagar um pouquinho, contando uma história que ilustra bem o malabarismo da vida real. Eu tive uma paciente, há alguns anos atrás, de quem eu confesso que tinha uma grande inveja (branca, claro) do seu grau de doação (e também de energia). Ela chegava em casa no final de um dia corrido e de muito trabalho (era engenheira civil e acompanhava o andamento de diversas obras), dava o jantar para as duas filhas pequenas, tomava banho junto com elas, vestia o pijama e deitava com as filhotas, contava historinhas e rezava com as meninas, e as colocava para dormir, ficando deitada com elas até que as mesmas caíssem no sono, por volta das 20, 21 horas. Então, ela se levantava, trocava de roupa e ia malhar na academia. Dá para imaginar a cena? Eu lembro de ter perguntado o porque de tudo isso e de ela me responder, na maior simplicidade, que não queria que as filhas pensassem que ela estava longe delas enquanto elas dormiam. Não tenho palavras que façam justiça à capacidade de doação dessa mãe e mulher.

                É incrível, inverossímel até, mas nós vivemos assim. Temos energia para levar a vida dessa maneira acelerada sentindo, às vezes, não mais que um pouco de cansaço, algum desconforto, uma dorzinha aqui, outra acolá. E isso por vários e vários anos. É a nossa vida e achamos normal vivê-la assim. Os anos passam e nós continuamos firmes, fortes e prontas para "ir à luta", algumas com um pouco mais, ou menos, de vigor que outras. Mas uma das Leis da Natureza é a da Impermanência e, assim, as coisas mudam insidiosamente ao longo dos anos. 

                Outra coisa que nós perdemos, e que eu omiti propositadamente acima, é a noção do Tempo. Não do diuturno, de curto prazo, como dia e noite, dias e semanas. Mas o de longo prazo, a contagem dos anos. Enquanto nos envolvíamos (ou, para algumas de nós, nos revolvíamos) na nossa rotina "fórmula 1", o tempo passou. De repente, não nos sentimos mais tão fortes ou motivadas, ou tão firmes e equilibradas. Começamos a sentir cansaço fácil, a memória começa a falhar, passamos a dormir menos (não por falta de tempo, mas por falta de sono), a nossa paciência é drasticamente reduzida, o nosso corpo começa a mudar (parece que quanto menos comemos, mais engordamos), podemos nos sentir melancólicas e desanimadas. A maioria de nós pode associar esses acontecimentos ao Estresse Crônico (o que, de fato, pode ser verdade em muitos desses casos), mas muitas mulheres só se apercebem que o tempo realmente passou quando os ciclos menstruais começam a sofrer alterações. No início, podem ser alterações discretas e passar desapercebidas, mas elas evoluem até que os ciclos mensais começam a falhar. É o sinal característico da chegada do Climatério, arauto da Menopausa.

                Mas, o que é Climatério? E Menopausa? Porque ela, se ainda não chegou para várias de nós, vai inexoravelmente chegar? E, mais importante, como conviver, e viver bem, com as mudanças trazidas pelo Climatério, e após passar pela Menopausa? Sim, porque não é absolutamente necessário sofrer os mal-estares ligados a essas mudanças passivamente. Podemos, e devemos, tratar esses sintomas e manter nossa Saúde e Bem Estar, mesmo sendo senhoras "menopausadas".

                Dizer que o Climatério e a Menopausa acontecem porque envelhecemos é um modo simplista de colocar os fatos, já que começamos a envelhecer bem antes disso, mas é a verdade. Vamos tentar entender as mudanças que acontecem internamente em nossos organismos, que levam a esse "divisor de águas" em nossa qualidade de vida.

                Nós produzimos vários hormônios, substâncias que funcionam como sinalizadores químicos para que os nossos órgãos possam exercer suas funções fisiológicas, ou seja, de modo equilibrado. Alguns desses hormônios são o Hormônio Folículo Estimulante (FSH), o Hormônio Luteinizante (LH), os Estrogênios e Progestogênios que exercem, entre outras funções, as de manter e regular os ciclos menstruais. A Hipófise, uma pequena glândula neuroendócrina localizada no cérebro, produz o FSH e o LH, enquanto os ovários respondem a esses estímulos produzindo Estrogênios e Progestogênios. Vamos simplificar esse detalhe nos referindo, a partir de agora apenas ao Estrogênio e ao Progestogênio principais para a construção do nosso raciocínio: o Estradiol e a Progesterona.

                Não vamos entrar em detalhes sobre o ciclo menstrual, para não alongar desnecessariamente o texto. Podemos resumir dizendo que Estradiol e Progesterona têm a função de preparar o útero para receber um óvulo fecundado por um espermatozóide (chamado, a partir de então, de ovo) e desenvolver uma gestação. Para isso, o endométrio (camada interna do útero) se espessa e fica repleto de vasos sanguíneos (ação do Estradiol), para garantir que o óvulo fecundado possa aí se desenvolver e gerar um novo ser (ação da Progesterona). Quando a fecundação não ocorre e a mulher não engravida, sinais químicos ordenam a queda da Progesterona, o que causa o colapso e a ruptura dos vasos sanguíneos no endométrio, e o seu descolamento e posterior eliminação através do canal vaginal, processo conhecido como menstruação. Esse ciclo se repete mensalmente, em períodos mais ou menos regulares, durante a nossa chamada "vida fértil", iniciando com a Menarca (primeira menstruação, marca o início da puberdade) e finalizando com a Menopausa. 

                Bem, a partir dos 30 anos de idade, embora não nos apercebamos, começam a ocorrer discretas alterações na produção desses hormônios e, então, iniciamos o processo lento e inexorável de envelhecimento celular. Esse processo ocorre em todos os órgãos e glândulas do corpo gerando, com o tempo, sinais internos e externos da queda das suas funções. Falando em particular sobre os ovários, como temos uma reserva funcional geralmente boa, essas alterações podem se desenvolver por até duas décadas antes de percebermos os sinais físicos da sua senescência, ou seja, as alterações no ciclo menstrual. O Climatério é justamente esse período, onde aparecem as alterações nos ciclos mas nós permanecemos menstruando, pois os níveis dos hormônios Estradiol e Progesterona já estão alterados o suficiente para que os ciclos fiquem irregulares.

                As alterações laboratoriais que caracterizam essa fase da nossa vida são a elevação progressiva dos hormônios hipofisários FSH e LH, e a queda, também progressiva dos hormônios ovarianos Estradiol e Progesterona.

                O Climatério pode durar vários anos, dependendo da velocidade de envelhecimento dos ovários, podendo se extender dos 45 até os 55, 60 anos de idade. Durante essa fase, os ovários vão perdendo lentamente a capacidade de produzir seus hormônios até finalmente atrofiarem e pararem de funcionar. A mulher tem, então, a sua última menstruação fisiológica, que é a Menopausa.

                Embora a principal característica da Menopausa seja a ausência de ciclos menstruais, esse não é o problema mais importante (na realidade, para a maioria de nós, mulheres, a ausência das menstruações é até bem vinda). As mudanças fisiológicas que ocorrem durante o Climatério e após a Menopausa, e que podem predispor ao aparecimento e/ou agravamento de diversas patologias, é que são o verdadeiro problema.

           Segue aqui uma breve relação dos sinais físicos e psicológicos relacionados ao Climatério e à Menopausa, os quais serão explicados mais detalhadamente no próximo texto:

                - irregularidades menstruais

                - alterações da libido

                - alterações do humor

                - alterações do contorno corporal

                - alterações do padrão de sono

                - ondas de calor

                - atrofia dos órgãos genitais primários e secundários

                - sinais externos de envelhecimento acelerado

                No próximo texto veremos as principais ações fisiológicas dos hormônios Estradiol e Progesterona e o que ocorre conosco quando não os produzimos mais, assim como a importância da sua reposição e os métodos mais indicados atualmente.

               Até o nosso próximo encontro.

               Um grande abraço para todos(as) e votos de Saúde e Paz,

               Paula Figueirêdo.


              

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