terça-feira, 13 de dezembro de 2011

HIPOTIREOIDISMO - SINTOMAS E SINAIS


            O Hipotireoidismo (hipofunção tireoidiana) é uma patologia de início, na maioria das vezes, lento e insidioso. Um grande número de pessoas pode sofrer de Hipotireoidismo durante vários anos antes que seja feito o diagnóstico dessa doença pois sintomas  como constipação, intolerância a frio, queda de energia, ganho progressivo de peso e queda de cabelos podem ser discretos e passar desapercebidos por um longo período de tempo.

            Os hormônios tireoidianos são essenciais para o bom funcionamento do metabolismo orgânico intracelular e sua disfunção pode atingir o equilíbrio de outros hormônios, como Cortisol, Estradiol, Testosterona, etc. Assim, a hipofunção tireoidiana pode se manifestar através de uma sintomatologia bem diversificada. Segue abaixo uma relação de sintomas que podem estar relacionados com o Hipotireoidismo. Se você apresenta mais de 5 ou 6 dos sintomas listados a seguir, convém procurar seu médico e realizar alguns exames específicos para confirmar ou afastar essa hipótese diagnóstica.
     Leia com atenção a relação de sintomas abaixo e marque com um X aqueles que você apresenta:

(   ) Obesidade, sobrepeso ou dificuldade de perder peso
(   ) Hipotensão
(   ) Hipotermia
(   ) Intolerância ao frio
(   ) Hiporreflexia
(   ) Lentidão de movimentos
(   ) Letargia
(   ) Incapacidade de concentração
(   ) Depressão
(   ) Agitação
(   ) Fadiga matinal
(   ) Constipação
(   ) Cefaléia
(   ) Enxaquecas
(   ) Pele ressecada, rugosa
(   ) Queda de cabelos na área anterior e posterior da cabeça
(   ) Cabelos ressecados e esparsos
(   ) Perda de pelos em pernas, axilas e braços
(   ) Voz arrastada
(   ) Voz grossa
(   ) Ansiedade
(   ) Insônia
(   ) Pânico
(   ) Síndrome do túnel do carpo
(   ) Parestesias (dormências, formigamentos)
(   ) Unhas quebradiças, espessadas, estriadas
(   ) Irregularidades menstruais
(   ) Retenção hídrica, edema em pés, pernas, mãos e abdome
       (mixedema)
(   ) Má circulação
(   ) Livor (vasoconstrição irregular da pele, com aspecto
       “mosqueado”)
(   ) Extremidades frias
(   ) Hematomas espontâneos
(   ) Queratose em cotovelos (pele espessa e escamosa)
(   ) Mialgias e artralgias (dores musculares e articulares)
(   ) Fraqueza muscular
(   ) Câimbras
(   ) Bradicardia (frequência cardíaca lenta)
(   ) Rigidez articular matinal
(   ) Face edemaciada (“gordinha”)
(   ) Edema de pálpebras, queda da pálpebra, blefaroespasmo
(   ) Perda do 1/3 lateral das sobrancelhas
(   ) Afinamento e perda dos cílios
(   ) Baixa libido
(   ) Coloração amarelada da pele
(   ) Apnéia do sono
(   ) Endometriose
(   ) Infertilidade
(   ) TPM
(   ) Doença fibrocística das mamas
(   ) Cólicas menstruais
(   ) Abortos recorrentes
(   ) Menorragia
(   ) Hipercolesterolemia
(   ) Hiperinsulinemia
(   ) Hipoglicemia
(   ) Comissura labial virada para baixo
(   ) Acne
(   ) Alergias, tendência a desenvolver alergias
(   ) Acúmulo de gordura sobre as clavículas
(   ) Ressecamento, prurido e descamação do canal auditivo
(   ) Excesso de formação de cerúmen no canal auditivo
(   ) Tinitus (sons estranhos no ouvido)
(   ) Vertigem (as coisas saem de foco)
(   ) Tontura
(   ) Anemia por deficiência de ferro
(   ) Deficiência de B 12
(   ) Baixa amplitude das ondas teta e delta no EEG
(   ) Desordem bipolar, psicose esquizóide ou afetiva
(   ) Doenças Cardiovasculares, Infarto Agudo do Miocárdio,
       Arritmias, Hipertensão Arterial Sistêmica, AVC
(   ) Risco aumentado de desenvolver asma
(   ) Elevação discreta das enzimas hepáticas
(   ) Cálculos biliares
(   ) Infecções renais e vesicais (bexiga)
(   ) Apetite aumentado, desordens alimentares
(   ) Deposição de mucina no tecido conjuntivo (edema endurecido)
(   ) Noctúria (urina sempre e muito à noite)
(   ) Disfunção erétil
(   ) Alterações da estrutura óssea (osteopenia, osteoporose)
(   ) Ausência de sudorese

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

SOBREPESO E OBESIDADE III - TRATAMENTO CLÍNICO

                Como já vimos em textos anteriores, o sobrepeso progressivo e a consequente obesidade são patologias multifatoriais e tratá-los apenas com redução da ingestão de alimentos e aumento da atividade física é uma abordagem simplista e, na maioria das vezes, fadada ao fracasso a médio ou longo prazo. Óbvio que a correção do padrão alimentar, que implica em uma provável redução da ingestão calórica, e a prática regular de exercícios físicos são essenciais no gerenciamento da perda de peso e na manutenção do peso ideal. Ocorre que podem não ser suficientes, e geralmente não o são, para corrigir os distúrbios metabólicos subjacentes ao ganho progressivo de gordura corporal.
                Vamos falar um pouco sobre a alimentação. Os hábitos atuais de alimentação deixam muito a desejar; com o estímulo exacerbado à ingestão de açúcar, sal e gorduras em excesso, além de um baixo consumo de fibras. Os alimentos industrializados geralmente seguem esse padrão; são práticos e saborosos, mas pouco nutritivos e repletos de substâncias estranhas ao nosso organismo como conservantes, corantes, acidulantes e aromatizantes que sobrecarregam o fígado e estimulam a produção de radicais livres em excesso durante a sua metabolização. Os radicais livres podem mediar o início de um processo inflamatório intracelular e contribuir para distúrbios metabólicos que induzem e mantêm o sobrepeso, como aumento da resistência à insulina e alteração no funcionamento dos hormônios tireoidianos (T3 e T4).
                O excesso de carboidratos e gorduras, em detrimento das proteínas, na dieta ocidental moderna leva diretamente ao desequilíbrio na função da insulina e consequente aumento da resistência insulínica que favorece o acúmulo de gordura intra-abdominal (gordura visceral) e o aumento do risco para desenvolver doenças cardiovasculares. A falta de fibras na alimentação favorece uma absorção mais rápida dos carboidratos e também facilita uma maior absorção das gorduras presentes nos alimentos. Além disso, uma dieta baseada, em grande parte, na ingestão de carboidratos dá uma sensação de saciedade de início rápido, mas momentânea, já que os mesmos são absorvidos mais rapidamente que as proteínas e gorduras, mas também são retirados da corrente sanguínea mais rapidamente, o que causa o retorno do apetite pouco tempo após a alimentação.
                Embora seja chato ficar remoendo um assunto do qual muitos já ouviram falar (e não gostaram, ou optaram por não dar a necessária importância), é necessário corrigir nossos hábitos alimentares. A alimentação mais adequada e saudável para o nosso organismo deve conter:
                - frutas, verduras, legumes e cereais integrais - são fontes de carboidratos ricos em fibras solúveis e insolúveis que retardam a absorção dos alimentos, prolongam a sensação de saciedade, reduzem a absorção de gorduras, melhoram o funcionamento do trato gastrointestinal e ajudam a regularizar os níveis de glicose, insulina, colesterol e triglicerídeos no sangue.
                - gorduras saudáveis como nozes, castanhas, amêndoas, abacate e azeite de oliva extra virgem - fontes de ácidos graxos Ômega 3, 6 e 9, ajudam a elevar o nível de HDL - colesterol (conhecido como colesterol bom), controlam processos inflamatórios no organismo e dão maior sensação de saciedade.
                - carnes magras, de preferência brancas - fontes de proteínas, sem o acréscimo desnecessário de gorduras saturadas nocivas à nossa saúde.
                Porque a prática regular de atividade física é essencial para ajudar a manter um peso saudável? Exercitar o corpo não ajuda apenas a queimar calorias extras durante os exercícios. Também é importante para:
                - melhorar a qualidade de sono - reduz a liberação de Ghrelina à noite (esse hormônio aumenta o apetite), facilita a liberação de GH (hormônio do crescimento que tem efeito lipolítico além de outras funções).
                - elevar a taxa metabólica basal (TMB) - a atividade física regular ajuda a aumentar e manter a massa muscular (maior fator a interferir na TMB), facilita a liberação de GH pós-exercício (lipolítico) e reduz o nível de estresse, controlando o nível de cortisol (o estresse eleva o nível de cortisol, que induz à perda de massa muscular e ao acúmulo de gordura visceral).
                O manejo correto de doenças de base, se houver alguma, é também essencial para conseguir resultados duradouros no controle do peso corporal. Condições como Estresse crônico, Hipotireoidismo, Menopausa, Andropausa, Fadiga Adrenal e outras, além do envelhecimento, podem coexistir com, ou mesmo causar, o sobrepeso progressivo e a obesidade. Identificá-las e tratá-las com a devida modulação hormonal pode ser o fator primordial para alcançar o sucesso ao tratar sobrepeso e obesidade em várias pessoas.
                Isso posto, vamos agora falar sobre algumas substâncias auxiliares no tratamento do sobrepeso e bem cotadas atualmente. Há várias décadas, várias substâncias naturais têm sido testadas como adjuvantes no emagrecimento, com efeito comprovado, embora permanecessem pouco conhecidas pelos profissionais da área. Também durante as últimas décadas, vários medicamentos têm sido amplamente utilizados no tratamento do sobrepeso como Femproporex, Anfepramona, Sibutramina e Orlistat. Com a decisão do Governo de proibir quase todos os medicamentos sintéticos (e alguns naturais como a Hoodia gordonii e a Caralluma fimbriata) utilizados para tratamento do sobrepeso, médicos e indústrias farmacêuticas têm voltado seu interesse para essas substâncias naturais, extratos de plantas, capazes de auxiliar efetivamente no emagrecimento.
                - Bauhinia oil extract (óleo essencial, extrato de Bauhinia) - ajuda no controle da resistência à Leptina (ver texto Sobrepeso e Obesidade II - Causas), melhorando a função dos receptores para Leptina de modo que o cérebro recebe mais rapidamente a sinalização de saciedade durante a refeição. Desse modo, nos satisfazemos com menores quantidades de alimentos.
                - Goya fruit extract (bitter melon) - ajuda no controle da resistência à insulina, aumentando a sensibilidade do organismo a esse hormônio. Bitter melon contém uma lectina com capacidade de se ligar aos receptores de insulina. Agindo nos tecidos periféricos reduz os níveis sanguíneos de glicose; simulando os efeitos da insulina no cérebro, ajuda a suprimir o apetite.
                - CinSulin (extrato aquoso de Cinnamon - canela) - ajuda a manter os níveis de glicose sanguínea dentro da faixa normal. É um termogênico leve.
                - Cocoa polyphenols (polifenóis do cacau) - inibem a lipase pancreática, a fosfolipase A2 e a alfa-amilase pancreática, enzimas que digerem carboidratos e gorduras no intestino, ajudando no controle do peso.
                - Fucus vesiculosus - alga rica em iodo, melhora a função tireoidiana em pacientes com Hipotireoidismo, estimulando uma maior produção de hormônios tireoidianos e uma elevação da taxa metabólica basal.
                - Raiz de gengibre - fitoterápico termogênico, aumenta a temperatura do corpo e o faz gastar mais energia. Acelera o metabolismo e a queima de gordura.
                - Citrus aurantium (laranja amarga) - o extrato dessa planta acelera o metabolismo, promovendo uma maior queima de calorias e, consequentemente, dos estoques de gordura do organismo. Além disso, o Citrus estimula a liberação de Adrenalina, o que pode estimular o aumento de atividade física e uma maior queima de gordura.
                - Camellia sinensis (chá verde) - devido ao conteúdo de polifenóis e de cafeína, é um termogênico que faz o corpo queimar 5% a mais de calorias durante o dia.
                - Ioimbina - é uma substância extraída da casca do Corynanthe yohimbe, uma árvore africana. Atua estimulando a lipólise, potencializando a queima de gordura e causando, assim, a perda de peso.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

HIPOTIREOIDISMO - O INIMIGO OCULTO

    Todos nós já ouvimos falar algo sobre a glândula Tireóide e como seu desequilíbrio pode afetar nossas vidas. Se ela trabalha demais, dá problema. Se de menos, também. Então, a glândula Tireóide é nossa amiga ou inimiga? Definitivamente, amiga. Embora seja uma amiga exigente e manhosa, daquelas que exigem um tratamento 5 estrelas para se comportar como deve. Quando maltratada, ou esquecida, começa a alterar sua atividade, na maioria das vezes de modo insidioso, levando silenciosamente a desequilíbrios importantes que podem (pasmem!) colocar em perigo a nossa própria sobrevida. Utilizando um aforismo de Muhamad Ali, " Com a forma de uma borboleta, e a picada de uma abelha."

    Vamos analisar essa glândula, seu papel metabólico e suas necessidades nutricionais, para entender melhor a colocação acima. A glândula Tireóide é uma pequena glândula em formato de borboleta, localizada à frente da traquéia (no pescoço) logo abaixo do pomo-de-Adão. A Tireóide secreta os hormônios tireoidianos Tiroxina (T4) e Triiodotironina (T3), que controlam a velocidade (rapidez ou lentidão) das diversas funções bioquímicas do corpo (Taxa Metabólica).

    Esses hormônios tireoidianos podem influenciar a Taxa Metabólica de duas maneiras:
     - eles estimulam praticamente todos os tecidos do corpo a produzir proteínas.
     - eles aumentam o consumo de Oxigênio pelas células, acelerando o metabolismo celular.

    Essas ações dos hormônios tireoidianos se refletem em muitas funções vitais, como: frequência cardíaca, frequência respiratória, gasto calórico total, temperatura corporal, saúde da pele, unhas e cabelos, velocidade de crescimento, fertilidade, digestão, peso corporal, etc.

    A Tiroxina (T4) é o hormônio produzido em maior quantidade pela Tireóide, e o mais abundante no organismo, correspondendo a aproximadamente 80% da carga total de hormônios tireoidianos circulando no sangue. O T3 responde pelos 20% restantes. O T4 regula funções essenciais como digestão, crescimento físico e desenvolvimento mental, mas é praticamente inativo na aceleração da Taxa Metabólica (gasto calórico total do organismo). Nesse caso, o hormônio metabolicamente ativo é o T3, no qual o T4 se converte ao perder uma molécula de Iodo. A conversão de T4 em T3 ocorre no fígado e em outros tecidos periféricos.

    A função tireoidiana é afetada pelos seguintes fatores:
    - qualidade da dieta - o estado de fome e dietas pobres em proteínas e ricas em carboidratos prejudicam a conversão de T4 em T3. Consumo adequado de água e Ômega 3 melhoram a função dos receptores para hormônios tireoidianos.
    - estado nutricional - déficit de Selênio, Potássio, Iodo, Ferro, Zinco, Cobre, Vitaminas A, B2, B3 e C afetam negativamente a conversão hormonal acima.
    - nível de Estresse - reduz a conversão de T4 em T3 por alterar níveis de Cortisol e acelera o envelhecimento da Tireóide.
    - doenças crônicas, inflamações e intoxicações - doenças renais e hepáticas, intoxicação por Cádmio, Mercúrio e Chumbo reduzem a conversão de T4 em T3. Doenças inflamatórias reduzem a função tireoidiana.
    - ações metabólicas de outros hormônios - GH, Testosterona, Insulina, Glucagon e Melatonina melhoram a conversão hormonal. Uso de anticoncepcionais reduz a função tireoidiana.
    - necessidade corporal de T3 a cada momento. A atividade física estimula a conversão hormonal. O sedentarismo a prejudica.

    A alteração patológica mais frequente da Tireóide, e nosso tema de hoje, é a diminuição da sua atividade, levando à doença conhecida como Hipotireoidismo. A elevação patológica da atividade tireoidiana, conhecida como Hipertireoidismo é muito menos frequente. Os sinais clínicos mais comuns no Hipertireoidismo estão relacionados à aceleração do metabolismo corporal e são:
    - ansiedade elevada,
    - perda de peso, apesar do apetite exacerbado,
    - tremores de extremidades - dedos e mãos,
    - sudorese intensa,
    - pele quente e úmida, mãos suadas e pegajosas,
    - intolerância ao calor (pessoa "calorenta"),
    - aumento da frequência cardíaca (taquicardia),
    - cabelos precocemente grisalhos, finos e macios,
    - trânsito intestinal acelerado (diarréia frequente)
    - aparência de olhos de desenho animado (olhos saltados).

    Já no Hipotireoiedismo os sintomas estão ligados à queda do metabolismo orgânico. Existem mais de 100 sintomas ligados à deficiência da Tireóide, alguns insuspeitos como aumento da produção de cerúmen no ouvido e prurido (coceira) no canal auditivo. Os mais frequentes estão listados abaixo:
    - intolerância ao frio (pessoa "friorenta"),
    - sintomas de má circulação periférica (extremidades frias, câimbras, edema de mãos e pernas, sensação de formigamento ou dormência nas extremidades),
    - fadiga matinal (acordar com dificuldade para levantar, conhecida como "preguiça"),
    - ganho progressivo de peso, ou dificuldade para emagrecer,
    - pele e mucosas secas (lábios e olhos secos), ausência de sudorese,
    - constipação crônica ("intestino preguiçoso", apesar da ingestão de fibras e água),
    - cabelos finos, opacos, ressecados e quebradiços, queda de cabelos e sobrancelhas,
    - palmas das mãos e plantas dos pés com coloração amarelada, unhas quebradiças,
    - déficit de memória, dificuldade de concentração e raciocínio lento,
    - queda de energia e sonolência durante o dia,
    - tendência para "Depressão",
    - redução da frequência cardíaca (bradicardia).

    Embora a maioria de nós conheça a Tireóide como a glândula que, quando hipofuncionante, causa sobrepeso progressivo, ela é bem mais importante para o metabolismo corporal e a sua disfunção, bem mais perigosa. Devido ao fato de o Hipotireoidismo ser de início insidioso e pouco sintomático (os sintomas só se tornam mais evidentes após uma queda importante da função tireoidiana), uma pessoa pode sofrer de Hipotireoidismo e permanecer sem diagnóstico por um longo período de tempo, o que pode levar a sérias complicações relacionadas à qualidade de vida e, mesmo, à sobrevida.

      Com relação à sobrevida, segundo o pesquisador americano Dr. D. Browsten, a diminuição da produção de Triiodotironina (T3) causa elevação importante dos níveis de Colesterol, principalmente LDL-Colesterol (também conhecido como Colesterol “ruim”), sendo um dos fatores mais importantes na Aterogênese (formação das famosas placas de ateroma que obstruem os vasos), elevando sobremaneira o Risco Cardiovascular nas pessoas que sofrem de Hipotireoidismo não tratado, ou tratado de modo insuficiente (Overcoming Thyroid Disorders, Medical Alt. Press, 2002). As pesquisas do Dr. N. Rouzier confirmam esse dado, e o mesmo afirma que disfunções da Tireóide estão associadas a doenças cardíacas (Longevity and Preventive Medicine Symposium, 2002).

    A qualidade da memória pode ficar bastante alterada no Hipotireoidismo pois a queda dos hormônios tireoidianos causa diretamente a queda do hormônio Pregnenolona, responsável pelo bom funcionamento do centro da memória (Tagawa. N., Clinic Chem, 2000). Esses são alguns exemplos de como a disfunção da Tireóide afeta mais que apenas o peso corporal.

    Vamos analisar resumidamente a cadeia de funcionamento dos hormônios tireoidianos:

HIPOTÁLAMO (CÉREBRO) PRODUZ TRH PARA ESTIMULAR A HIPÓFISE

HIPÓFISE (CÉREBRO) RESPONDE PRODUZINDO TSH PARA ESTIMULAR A TIREÓIDE
TIREÓIDE RESPONDE PRODUZINDO HORMÔNIOS T4 E T3
HORMÔNIOS VIAJAM NO SANGUE (LIGADOS À PROTEÍNA DE TRANSPORTE TBG) ATÉ OS TECIDOS E ÓRGÃOS-ALVO
PARTE DO T4 SE TRANSFORMA EM T3 (NOS TECIDOS E ÓRGÃOS-ALVO)
AMBOS OS HORMÔNIOS SE LIGAM AOS RECEPTORES CELULARES
RESPOSTA CELULAR
EQUILÍBRIO METABÓLICO

    Como se faz o diagnóstico de doença tireoidiana? Após a exposição das queixas e o exame físico do paciente durante a consulta, o médico pede alguns exames laboratoriais e de imagem. Os mais solicitados no meio médico aqui no Brasil são: T4 livre, T4 total, T3 livre, T3 total, TSH (Hormônio Estimulador da Tireóide), Anticorpos Anti Tireoperoxidase (AntiTPO) e anti Tireoglobulina (Anti TG), e Ultrassom de Tireóide com Doppler. Precisamos lembrar que os exames de laboratório e de imagem são complementares. De fato, não faz sentido se tratar qualquer pessoa baseando-se somente no que os exames mostram. Precisamos "enxergar" e "escutar" o paciente. Claro que, quando os exames laboratoriais estão alterados e o paciente apresenta queixas compatíveis com a nossa suspeita diagnóstica, fica tudo mais fácil. A questão é: e quando a pessoa tem várias queixas sugestivas de Hipotireoidismo, mas os exames laboratoriais estão dentro da faixa de variação considerada "normal", como proceder?

    Primeiro precisamos entender que existe uma diferença crucial entre nível normal e nível ótimo, quando falamos de exames laboratoriais relacionados ao metabolismo orgânico. Nível normal é aquele que se encontra na maioria das pessoas aonde a doença ainda não se estabeleceu de forma clara, e envolve uma faixa de variação muito extensa dentro da população. Já nível ótimo é uma pequena faixa, situada dentro do nível normal, onde a pessoa tem um perfeito funcionamento do órgão/glândula examinado. Vamos tomar o TSH como exemplo. A faixa de variação considerada normal difere de acordo com o método de medição utilizado por determinado laboratório, mas varia de aproximadamente 0,50 uIU/mL a aproximadamente 5,00 uIU/mL. Então vamos pensar: como o TSH é um hormônio liberado pela glândula Hipófise, para estimular a Tireóide a produzir T4 e T3, será que uma pessoa cuja Tireóide está necessitando de menor estímulo para "trabalhar" está na mesma situação de outra, cuja Tireóide está precisando de um estímulo maior para responder de modo equilibrado? Em outras palavras, será que a Tireóide de uma pessoa cujo TSH está 0,50 está igual à Tireóide de outra, cujo TSH está 5,00? Óbvio que não. A Tireóide de quem tem TSH de 5,00 está mais lenta que a de quem tem TSH de 0,50, embora ambos os resultados sejam tidos como normais. Aqui entra o conceito de nível ótimo. Para o TSH, antigamente era 3,0. Pesquisas atuais vem baixando esse nível e,  hoje, o TSH é considerado ótimo quando está no máximo em 1,0 (Congresso Latino-Americano de Antienvelhecimento, 2011). O que isso significa: a pessoa cujo TSH está até 1,0 tem um excelente funcionamento da Tireóide.

    O conceito de Hipotireoidismo Subclínico se baseia, em parte, nessa premissa. Seria o Hipotireoidismo que ocorre em pessoas com pouca ou nenhuma alteração dos níveis hormonais da Tireóide (T3, T4 e TSH). Além de possível, esse quadro é bastante comum. Grande parte das pessoas que sofre de Hipotireoidismo não têm seu diagnóstico feito por conta de seus exames estarem dentro da faixa dita normal. Vamos atentar para o que foi dito acima. Esses exames são complementares, apenas auxiliam o raciocínio do médico (ou, pior, atrapalham). Pode ocorrer Hipotireoidismo com níveis hormonais normais de T4 e T3; basta, para isso, que o organismo produza os hormônios mas os mesmos, por uma série de fatores, não atuem de modo apropriado. Respondendo agora à questão acima: se a pessoa tem quadro clínico de Hipotireoidismo, mesmo com exames dentro da faixa considerada normal, é aconselhável o tratamento. O tipo de terapia vai depender do nível de desequilíbrio, nesse caso avaliado pela sintomatologia, e pode incluir suplementação nutricional, correção da alimentação e, mesmo, reposição de hormônios tireoidianos.

    As causas que concorrem mais comumente para o Hipotireoidismo Subclínico são:
    - incapacidade de o T4 se transformar em T3, na quantidade necessária. Lembremos que o hormônio tireoidiano metabolicamente ativo é o T3. Estão envolvidos nesse caso doenças, distúrbios nutricionais e utilização de alguns medicamentos.
    - alteração da função dos receptores celulares para os hormônios tireoidianos. Se o hormônio não se atrelar de modo eficiente ao seu receptor celular, não vai poder agir. Os sintomas que surgirão seram iguais aos gerados por uma queda da produção dos hormônios, mas o laboratório vai mostrar os hormônios em níveis normais ou discretamente elevados.

    Resumindo o que foi exposto acima: existem vários "elos" na cadeia de ação dos hormônios tireoidianos onde pode ocorrer uma alteração que leve ao Hipotireoidismo. O problema pode ocorrer no Hipotálamo, na Hipófise, na Tireóide, no transporte dos hormônios através do sangue, na conversão de T4 em T3 e nos receptores celulares, sendo que alterações nos 4 últimos elos da cadeia podem levar ao Hipotireoidismo Subclínico. 

    Outro ponto importante, que não pode ser esquecido quando se trata Hipotireoidismo. Os medicamentos industrializados disponíveis no mercado nacional, para tratar Hipotireoidismo, contêm apenas a Tiroxina (T4). Então, dentro do organismo, parte do T4 ingerido deve ser convertido em T3, que é o hormônio metabolicamente ativo. Para quem consegue realizar essa conversão sem problemas, a reposição de T4 isolado dá resultado. Mas, e para quem não consegue? Estamos falando daquelas pessoas que estão tratando Hipotireoidismo com medicamentos que contêm apenas T4, as dosagens laboratoriais de T4 e TSH estão dentro da faixa considerada normal e, mesmo assim, elas não melhoram muito das queixas iniciais.

    O que você pode fazer para prevenir, ou tratar, Hipotireoismo?
    - visite periodicamente o seu médico e faça dosagens hormonais de rotina para avaliar a Tireóide. Devem ser dosados os níveis de T4 livre, T3 livre e TSH. Como doenças de Tireóide podem ter um componente genético, é indicado que os exames laboratoriais sejam realizados de rotina em crianças e adolescentes que tenham história familiar positiva para esses problemas.
- Se você já está em tratamento de Hipotireoidismo, deve dosar também T3 reverso pois, quando o T4 é convertido em T3, uma parte dele pode originar o T3 reverso, que é metabolicamente inativo,

USO DE MEDICAMENTOS QUE CONTÊM APENAS T4

T4 “PERDE” UMA MOLÉCULA DE IODO (CONVERSÃO PERIFÉRICA DE T4 EM T3)
                                              
T3 LIVRE (ATIVO)                    T3 REVERSO (INATIVO)

    - se indicado, faça reposição de hormônios tireoidianos bioidênticos (T4 e T3) e Iodo orgânico.
    - reduza consumo exagerado de carboidratos e aumente a ingestão de proteínas de alto valor biológico,
    - evite dietas "da moda", que nos fazem passar fome e reduzem a conversão periférica de T4,
    - aumente a ingestão de verduras e frutas, que são ricas em vitaminas e sais minerais. Se indicado, faça suplementação de vitaminas e minerais (ver vitaminas e minerais listados acima),
    - se você tem sintomas de Hipotireoidismo, mesmo que os exames estejam dentro da faixa normal, evite os seguintes alimentos: soja, espinafre, nabo, rabanete, couve-flor, couve-de-Bruxelas, amendoim, morango, pêssego, pêra, pães cuja massa contêm fermento (há brometo no fermento para panificação). Esses alimentos reduzem a função tireoidiana e a conversão periférica de T4.
    - utilize água mineral para beber e cozinhar alimentos (não clorada e não fluorada) e prefira pasta de dentes sem flúor. Flúor, Cloro e Bromo são da mesma família do Iodo (lembra da Tabela Periódica?) e, se você tem deficiência de Iodo, a sua Tireóide vai querer utilizar esses elementos para produzir hormônio. Resultado: hormônio tireoidiano inativo.
    - faça exercícios físicos regularmente. Se tem sintomas de Hipotireoidismo, faça atividade física de 4 a 6 vezes na semana, mínimo de 30 a 60 minutos. Auxiliam a conversão periférica de T4.
    - faça exercícios respiratórios regularmente. Exercícios de respiração profunda elevam a concentração de Oxigênio dentro das suas células.
    - evite, se possível, exposição a Xenoestrógenos ambientais (ver texto Xenoestrógenos: Nosso Futuro Roubado nesse blog) e uso de Anticoncepcionais. Reduzem função tireoidiana e a conversão periférica de T4; aumentam os níveis de TBG (globulina de transporte, que "sequestra" T4 e T3) causando redução nos níveis de T4 livre e T3 livre.
    - mulheres que passaram pela Menopausa devem ter um cuidado extra com a Tireóide pois, nessa fase, aumenta a incidência de disfunção tireoidiana. Lembre-se que o organismo envelhece como um todo, ou seja, a Tireóide também envelhece, assim como todas as glândulas e órgãos.

    Como Hipotireoidismo é um assunto realmente extenso, demos apenas algumas pinceladas sobre o que é mais importante. Espero que essa breve exposição possa ajudar as pessoas portadoras de Hipotireoidismo, Subclínico ou não, a entender o que ocorre nos seus organismos.

    Uma boa semana para todos.