segunda-feira, 29 de agosto de 2011

COMO O ESTRESSE NOS ENGORDA E O QUE PODEMOS FAZER PARA REDUZIR SEU IMPACTO NA NOSSA SAÚDE

               Vida corrida, pressão no ambiente de trabalho, contas a pagar, trânsito congestionado e marcado por motoristas "simpáticos e educados", compromissos que nunca se consegue cumprir, aquela visita ao médico adiada mais uma vez por conta do trabalho, obrigações e preocupações com familiares, doenças agudas ou crônicas, noites mal dormidas, desânimo e sonolência que requerem vários cafézinhos ao dia para o seu controle, falta de tempo (ou de energia) para praticar atividade física... Poucos desconhecem, ou não vivenciam, grande parte dos fatores acima listados, causadores do chamado Estresse Crônico. Conhecido como o "mal do século" ainda no século passado, o Estresse Crônico é reputado hoje como um dos maiores (se não o maior) fatores limitantes da qualidade de vida e da saúde das pessoas.

               Há muito, médicos e outros profissionais da Saúde cientes desse risco vêm alertando seus pacientes a tentar combater o Estresse antes que ele detone sua saúde. Além de doenças cardiovasculares e do aumento do risco de desenvolver Câncer e Alzheimer, vários estudos conduzidos em Universidades de diversos países durante os últimos anos apontam para o fato de o Estresse estar ligado a um outro grande problema de Saúde Pública mundial - a Obesidade.

               O médico norteamericano Jason Block, em estudo publicado no American Journal of Epidemiology, analizou a relação entre o Estresse e o ganho de peso e constatou que, não só as pessoas estressadas tendem a engordar mais, mas também que homens e mulheres respondem a padrões diferentes de pressão. Após nove anos de pesquisa Dr. Block concluiu que, nos homens, existe uma relação entre obesidade ou sobrepeso e estresse ligado à situação financeira, falta de liderança ou um trabalho que não seja estimulante. Já para as mulheres, além da preocupação com o lado financeiro, pesam também a falta de controle sobre a própria vida, a pressão no trabalho e os problemas nos relacionamentos familiares.

               Como isso acontece? Por quais mecanismos o Estresse nos faz aumentar de peso? Esses mecanismos foram implementados quando o homem pré-histórico ainda habitava cavernas e tinha que lutar para sobreviver em um ambiente altamente hostil, alternando momentos em que caçava para alimentar-se e à sua tribo com outros em que lutava contra outros predadores, ou procurava fugir deles, em defesa da sua vida ou de sua prole. Não admira que a expectativa de vida, à época, fosse de meros dezoito anos. Bem, dezenas de milhares de anos se passaram e nos tornamos (ou gostamos de assim pensar) pessoas civilizadas. As caçadas foram substituidas por idas a supermercados, restaurantes ou fast-foods. Às cavernas, sobrevieram casas e apartamentos, cada vez mais confortáveis, práticos e requintados. A labuta dura e diária na terra bruta e as lutas de vida e morte com animais e tribos inimigas deram lugar às diversas profissões modernas, exercidas, salvo algumas exceções, em ambientes mais tranquilos e protegidos. Infelizmente, embora o cenário atual seja mais brando que em eras passadas, o Estresse também evoluiu, transmutado em fatores aparentemente inócuos como vimos acima, verdadeiras "armadilhas" para o cérebro. Isso porque, mesmo passado todo esse tempo, o cérebro do século XXI ainda responde aos fatores estressores da sociedade moderna do mesmo modo "Naenderthal" do passado.

               E porque é assim? Porque o cérebro não é capaz de diferenciar o Estresse "físico" (perigo real e imediato) do "psicológico" (perigo imaginário). Então, sempre que temos um dia complicado (o que é cada vez mais comum), o cérebro estressado age como se estivéssemos em perigo e ordena às glândulas Supra-renais que liberem potentes hormônios, como Adrenalina, Noradrenalina e Cortisol, que preparam o organismo para a reação de "luta ou fuga". A Adrenalina indica ao organismo que libere energia para o caso de uma fuga súbita, além de provocar alterações cardiovasculares como o aumento da frequencia cardíaca e a vasoconstrição periférica. Enquanto isso o Cortisol, o famoso "hormônio do Estresse", sinaliza ao corpo que é necessário repor a energia liberada, ainda que a mesma não tenha sido completamente gasta durante o estado de "alerta", ampliando o "estoque de energia" como um modo de se proteger do que pode vir pela frente. Isso faz com que tenhamos muita, muita fome. O Cortisol continua a ser liberado durante toda a fase de Estresse, o que acaba nos transformando em pessoas permanentemente "famintas" enquanto perdurar a ação do fator estressor que desencadeou essa resposta no organismo. Para piorar o quadro, ocorrem alterações do nosso paladar, secundárias a alterações hormonais e de neurotransmissores ligados ao sistema de recompensa (estimula o organismo a procurar algo prazeroso como recompensa pelo sofrimento que está enfrentando), que nos fazem priorizar alimentos doces e comidas calóricas, repletas de gordura e Sódio. Assim, não só comemos muito, mas também comemos mal. As células do tecido adiposo são estimuladas a armazenar mais e mais gordura e, segundo o pesquisador Herbert Herzog, da Austrália, sob estímulo do Cortisol esse acúmulo pode se dar preferencialmente na região abdominal, relacionada à gordura visceral. Se essas reações ocorrerem de modo contínuo, devido aos numerosos fatores estressores que podem interferir diariamente na nossa rotina, as alterações hormonais se tornam crônicas e passam a acarretar mudanças duradouras, às vezes permanentes, no nosso organismo. São exemplos a Obesidade, a Hipertensão Arterial, o Diabetes e a Hipercolesterolemia.

               Por si, as alterações do Estresse que nos fazem armazenar mais gordura já são bastante ruins, mas seu efeito é ainda mais devastador do que imaginamos pois, quando as Supra-renais aumentam cronicamente a liberação de Cortisol, cai a produção do hormônio Testosterona, principal responsável pela manutenção da massa muscular. À queda da Testosterona, segue-se perda de massa muscular, com consequente queda do gasto calórico do organismo (pois músculos consomem energia). Em resumo, nós comemos mais e gastamos menos. Desse jeito, como não engordar?

               Agora, podemos pensar "Não tem jeito. Se o Estresse faz parte da vida cotidiana de quase todos e ele nos faz engordar, então o sobrepeso, e mesmo a obesidade, são inevitáveis na nossa sociedade moderna". Não é bem assim. Existem algumas medidas que podemos tomar para reduzir o impacto da rotina estressante em nossa saúde e, obviamente, em nosso peso:

               1 - precisamos ter a consciência de que podemos ganhar peso quando estamos estressados. Assim, ficaremos mais alertas quanto à quantidade e à qualidade do que comemos durante períodos de Estresse. Em outras palavras, devemos prestar atenção ao que comemos, em vez de engolir de modo mecânico tudo o que passa pela nossa frente.

               2 - praticar atividade física com regularidade e frequencia mínima de 3 dias na semana. Mas é importante gostar da atividade escolhida, para que a mesma nos traga prazer e vontade de praticá-la repetidas vezes, ou não ocorrerá o resultado desejado, que é a liberação de endorfinas e Serotonina, com consequente sensação de bem estar.

               3 - comer devagar e não fazer dietas restritivas nos ajudam a ter, e manter, a sensação de saciedade, que nos dá conforto e afasta o mau humor. Cuidado com as dietas da moda que podem, além de causar mal à saúde, elevar a ansiedade e piorar os sintomas de Estresse.

               4 - reduzir o consumo de cafeína, substituindo o café por chá de camomila ou cidreira. Ajuda a reduzir a ansiedade e melhorar a qualidade do sono.

               5 - procurar melhorar a qualidade do sono, já que a insônia, tanto causa como efeito do Estresse crônico, leva a alterações na liberação do Cortisol.

               6 - introduzir na nossa rotina hábitos que nos dêem prazer, como ouvir música, dançar, ler um bom livro, caminhar pelo parque ou na beira do mar, sair com amigos ou familiares queridos. Todos nós podemos arranjar um "tempinho" no nosso dia a dia para fazer algo que gostamos.

               7 - não postergar compromissos assumidos, pois pode elevar a nossa auto-cobrança e os nossos níveis de desconforto e ansiedade.

               8 - cultivar a nossa religiosidade, entender que todos fazemos parte de um plano maior e manter a fé, mesmo quando tudo parece dar errado. Aos que ainda não o fizeram, recomendo ler "Pegadas na Areia". Aos que já o conhecem, por favor, releiam-no. Não há nada melhor para combater o Estresse do que saber que, lá de cima, Alguém cuida de todos nós.

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